30 anos de Delphi

Dia 14/02/2025 o Delphi completa 30 anos de existência! Nessas 3 décadas, passou por altos e baixos em sua trajetória, mas o fato é que ele está mais vivo do que nunca, e continua sendo a melhor ferramenta de programação RAD disponível no mercado!

Para os “velhos” (me incluo nessa) que tiveram a sorte de viver o começo da “era da informática” e experimentar a programação desde sua forma mais crua até as linguagens de alto nível, o Delphi marcou uma revolução na programação para Windows que, arrisco dizer, até hoje não foi superada!

Contextualizando

Comecei a programar com 11 anos de idade, na época, usando um clone do Apple II com 48K de RAM e 1Mhz de CPU. Ele já vinha com o AppleSoft basic nativo e, obviamente, podia-se recorrer ao Assembler do 6502 para algo que exigisse mais performance. Espetando-se uma placa CP/M tornava possível executar o dBase II e criar aplicações acessando bases de dados DBF. Depois, migrei para os clones dos IBM PCs (um AT 286). Nessa época, todos os cursos de computação ensinavam Lotus 123 e dBase III+ e/ou Clipper. Esse era o caminho padrão para praticamente todos os desenvolvedores no Brasil. Perceberam que todos esses softwares rodavam em D.O.S.? Pois é! O Windows 3.1 nem tinha sido lançado!

Foi uma fase no mínimo interessante e única, onde MicroSoft e IBM “brigavam” pelo próximo sistema operacional de sucesso. De um lado o IBM OS/2 (que por sinal, também rodava aplicações do Windows 3.1) e do outro a Microsoft com o Windows! Hoje todos sabemos quem ganhou a briga.

Com o rápido aumento de popularidade do Windows, a demanda por softwares GUI cresceu em um ritmo acelerado. No entanto, as linguagens de programação e IDEs disponíveis na época, além de escassas, eram pouco produtivas. Havia o Microsoft Visual C++, QuickBasic, Visual Basic, além de algumas “bizarrices” no mercado, como o FiveWin (conhecido também por Clipper para o Windows). A própria Borland chegou a lançar um Turbo Pascal para Windows, que gerava aplicações GUI. Nessa época, na maioria das vezes, programar para Windows era basicamente escrever código bruto chamando diretamente as funções da API do Windows.

Felizmente, em 1.995 a tortura acabou!

Delphi 1.0 [1.995]

O Delphi 1.0 foi lançado e chegou oferecendo uma forma de desenvolver aplicações GUI nativas para Windows muito rapidamente e, melhor ainda, de forma visual e usando o velho e bom Pascal como linguagem de programação! Para fechar o pacote com chave de ouro, trouxe também conexão com os principais bancos de dados, além da VCL (Visual Component Library) – uma biblioteca de componentes visuais que facilitava extremamente a vida do desenvolvedor.

Comprei meu Delphi 1 na (falecida) FenaSoft, se não me engano por R$ 50! Me lembro de ter enfrentado fila para comprar!

Não demorou e o Delphi se tornou uma das principais ferramentas de desenvolvimento para Windows no Brasil. As universidades que ofereciam cursos de computação adotaram o Delphi rapidamente, fazendo com que praticamente todos os estudantes daquela época tivessem contato com a IDE, gerando um efeito positivo onde os recém-formados já saíam da faculdade conhecendo o básico, ajudando a suprir uma demanda crescente das milhares de Software Houses que também o adotaram como principal ferramenta de desenvolvimento dos seus softwares.

Com o lançamento do Delphi 1, comecei a migrar meus sistemas do Clipper 5 para o Delphi. A produtividade era absurda! Nessa época, havia muita discussão nos grupos de programadores em relação a qual era o melhor: VB ou Delphi? Posso citar algumas das vantagens:

  • Código mais eficiente/rápido e nativo (sem necessidade do uso de interpretadores/runtimes).
  • Imensa quantidade de componentes visuais – fora a VCL, havia milhares de componentes de terceiros que podiam ser integrados na IDE, para todos os fins e gostos.
  • Melhor suporte à bancos de dados.
  • Object Pascal – linguagem estruturada e orientada a objetos.

Começava a época de ouro do Delphi! Havia uma infinidade de livros no mercado, inclusive em português, além de revistas especializadas (ClubeDelphi, ActiveDelphi, The Club etc), refletindo a forte demanda por informação de qualidade.

Abrindo um parentesis: foi através do Delphi que conheci um tal de InterBase, meu primeiro contato com um banco de dados relacional. Que felicidade! Chega de bases corrompidas e reindexações diárias. E tudo ficou ainda melhor depois de alguns anos, com a chegada do Firebird.

Em 1.996, ou seja, um ano após o lançamento da primeira versão, o Delphi 2 foi lançado, trazendo compilação nativa para 32 bits e possibilidade de desenvolver em 3 camadas para banco de dados, entre outras novidades.

Nogueira, David I e eu, na BorCon 2002

O Delphi era tão forte no Brasil, que a Borland resolveu fazer uma edição local (em português) da sua tradicional conferência: a BorCon! E foi durante uma das BorCons que me encontrei pessoalmente com o Emerson Facunte, iniciando um movimento que culminou com a criação do DUG-BR.

Durante as 3 décadas, o Delphi mudou de mãos algumas vezes, e viveu uma fase complicada (pra dizer o mínimo) nas mãos da Inprise/CodeGear, até finalmente ser comprado pela Embarcadero, que trouxe a ferramenta de volta aos trilhos.

Pedi para as IAs listarem todas as versões do Delphi e seus anos de lançamento, além das principais novidades de cada versão:

Primeiras Versões (Borland):

  • Delphi 1 (1995): A versão inaugural, que revolucionou o mercado com sua interface visual e RAD (Rapid Application Development). Introduziu a linguagem Object Pascal e o framework VCL (Visual Component Library).
  • Delphi 2 (1996): Trouxe suporte para desenvolvimento de aplicações de 32 bits, aprimorando o desempenho e a capacidade dos programas.
  • Delphi 3 (1997): Novos componentes VCL (incluindo Decision Cube e TeeChart), suporte a Active Forms.
  • Delphi 4 (1998): Melhorias na linguagem, IDE (Integrated Development Environment) e VCL, Code Insight, além de suporte para novas tecnologias como COM (Component Object Model).
  • Delphi 5 (1999): Introduziu o suporte para bancos de dados ADO (ActiveX Data Objects) e aprimorou a integração com a Web.
  • Delphi 6 (2001): Trouxe o suporte para desenvolvimento de aplicações Web com IntraWeb e a tecnologia SOAP (Simple Object Access Protocol).
  • Delphi 7 (2002): Uma das versões mais populares, com foco em estabilidade e desempenho, além de melhorias na IDE e na linguagem. Suporte aprimorado a Windows XP (Temas e Estilos).

Transição e Novas Versões (Borland/CodeGear/Embarcadero):

  • Delphi 8 (2003): Versão focada no desenvolvimento para a plataforma .NET, utilizando a linguagem Delphi para criar aplicações gerenciadas.
  • Delphi 2005 (2004): Retorno ao desenvolvimento de aplicações nativas Win32, com melhorias na IDE e na linguagem.
  • Delphi 2006 (2005): Uniu o desenvolvimento para Win32 e .NET em um único ambiente, oferecendo flexibilidade aos desenvolvedores. Incluía Delphi (Win32/.NET), C++Builder e C# em uma única IDE
  • Delphi 2007 (2007): Melhorias na VCL e na IDE, além de suporte para AJAX (Asynchronous JavaScript and XML) para aplicações Web. Focado em Win32.
  • Delphi 2009 (2008): Introduziu recursos como generics e anonymous methods, aprimorando a linguagem e a produtividade.
  • Delphi 2010 (2009): Foco no desenvolvimento para Windows 7 e na criação de aplicações com interfaces mais modernas. Suporte a touch e gestos.
  • Delphi XE (2010): Integração com subversion na IDE, ferramentas de auditoria e métricas de código.
  • Delphi XE2 (2011): Introduziu o FireMonkey, permitindo a criação de aplicações nativas para diversas plataformas. Compilador 64 bits para Windows.
  • Delphi XE3 (2012): Aprimorou o FireMonkey e trouxe novidades para o desenvolvimento de aplicações móveis.
  • Delphi XE4, XE5, XE6, XE7 e XE8 (2013-2015): Continuaram a expandir o suporte multiplataforma e aprimorar a linguagem e a IDE.
  • Delphi 10 Seattle, 10.1 Berlin, 10.2 Tokyo, 10.3 Rio e 10.4 Sydney: Versões que trouxeram melhorias contínuas, suporte para novas tecnologias e foco na produtividade dos desenvolvedores.
  • Delphi 11 Alexandria e 12 Athens (2015…): As versões mais recentes, com foco em desenvolvimento multiplataforma, melhorias na IDE e na linguagem, além de suporte para as últimas tecnologias do mercado.

DUG-BR (Delphi Users Group Brasil)

Lançamento oficial do DUG-BR na Saraiva (Marcos, Akira, Facunte, Marcelo, Cantu e Nogueira)

Em 29 de março de 2.003, na Livraria Saraiva em São Paulo, durante o lançamento do livro “Delphi 7 Internet & Banco de Dados” do Emerson Facunte, o DUG-BR foi finalmente anunciado publicamente.

A ideia de montar o grupo veio do próprio Facunte, reunindo pessoas chave da comunidade Delphi da época. O grupo era composto por:

  • Emerson Facunte (Saraiva)
  • Carlos H. Cantu (site FireBase)
  • Marcelo Nogueira (CTA)
  • Marcos Gomes (site Delphi-BR)
  • Sidnei Akira Egashira (site Delphi-BR)
  • Eduardo Rocha (site EduDelphiPage)
  • Marcelo Ribeiro (site Active Delphi)
  • Celso Paganelli (revista The Club – só no início)
  • Gladstone Matos (revista Clube Delphi – só no início)
Edu, Nogueira, Marcos, Facunte, Cantu, Marcelo, Akira e Daniel

A missão do DUG era clara: levar conhecimento sobre Delphi para todos, através de eventos com diversas palestras, os quais batizamos de DDD (Delphi Developers Day). Além de fazer total sentido “semanticamente falando”, a abreviação DDD já era amplamente conhecida por todos os brasileiros, pois era como chamavamos as ligações telefônicas entre cidades (Discagem Direta à Distância). Durante vários anos, fui o presidente do DUG-BR, cargo passado posteriormente para o Marcelo Nogueira.

O primeiro DDD foi realizado em Piracicaba-SP, na Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP), em 4 de outubro de 2.003. Mesmo sendo estreantes como organizadores de eventos, ele de cara já foi um sucesso, com mais de 200 pessoas presentes! Os temas das palestras foram: Rave Report, Stored Procedures no IB e FB, Aplicações para internet no Delphi 7 e Desenvolvimento RAD Para Linux.

Vista parcial do público no 1º DDD

Desde o início, adotamos a premissa de que a inscrição para nossos eventos seria a mais barata possível, cobrando basicamente o suficiente para cobrir os custos com aluguel de equipamentos, translados, coffee-break etc. Em suma, o objetivo era não deixar que o fator financeiro fosse um empecilho para a participação de alguém! A inscrição para o primeiro FDD custava R$ 12,00 (sim, você leu certo: doze reais! inacreditável, não?!).

Ao todo, foram realizados 10 DDDs em diversas cidades, entre elas Piracicaba, Bauru, Sorocaba, São Paulo e Uberlândia, até o grupo se dissolver. No final desse artigo você encontra a reprodução do report original do 1º DDD.

Presente e futuro – o que esperar?

Torço para que o Delphi continue evoluindo sem perder sua essencia RAD e ganhando cada vez mais qualidade, e que a Embarcadero/Idera continue investindo e acreditando em seu potencial, e se esforce para trazê-lo de volta às universidades, de onde jamais deveria ter saído!

Durante os 30 anos que faço uso do Delphi, nunca tive que recorrer a outra ferramenta de programação para desenvolver softwares desktop para Windows, dos mais variados tipos. Ele evoluiu, acompanhou e deu suporte às inovações e padrões de mercado que surgiram durante essas três décadas, sem praticamente perder compatibilidade com o código legado e sem deixar de ser a ferramenta RAD que tanto gostamos! Isso não é pouca coisa!

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