Robô aspirador – vale a pena?

Os robôs aspiradores de pó já existem há algum tempo e geralmente são encontrados em diversos modelos, com diferentes funcionalidades. Fato é que eles têm ficado cada vez mais baratos e inteligentes, sendo possível encontrar modelos simples com preços abaixo de R$ 500.

Durante um tempo, duvidei da eficiência desses robôs, mas recentemente decidi arriscar e comprar um pra ver no que dava. Uma coisa era certa: fugiria dos modelos “pé de boi” e escolheria um que tivesse, no mínimo, recursos que considero essenciais para ter um resultado satisfatório, sendo:

  • Retorno automático para a base de carregamento
  • Mapeamento automático da “casa”
  • Possibilidade de definir áreas proibidas ou barreiras virtuais que ele não pode passar
  • Bom custo x benefício

Sendo assim, depois de alguma pesquisa, comprei no AliExpress o Abir X8, uma marca chinesa, mas que tem armazém no Brasil, ou seja, você compra o produto que já está no estoque do país, sabendo exatamente quanto vai pagar (sem risco de taxas etc.) e a entrega, no meu caso, foi feita em 3 dias (pelo Correio). A Abir tem alguns outros modelos com funcionalidades inferiores ou superiores. O X8, na minha opinião, foi o que apresentou o melhor custo x benefício. Além dos recursos essenciais que listei acima, ele também “passa pano” e possui uma luz ultravioleta que vai matando os germes do chão.

Aparentemente o X8 é baseado em uma plataforma OEM usada também por outras marcas. O robô Smart 700, encontrado no mercado nacional, provavelmente usa a mesma plataforma do X8. Optei pelo X8 porque o Smart 700 é um modelo mais defasado da plataforma, sem a luz ultravioleta.

Na prática

Alerta de spoiler: valeu cada centavo!

O X8 possui tecnologia LIDAR, que usa um laser invisível para fazer o mapeamento 3D das áreas e que, para a minha surpresa, funcionou excepcionalmente bem! Você liga o robô e imediatamente ele mapeia todo o espaço que conseguir “enxergar”. Depois, conforme vai se deslocando e tendo acesso a outras áreas da casa, o mapa vai sendo ampliado automaticamente. Não canso de acompanhar, pelo aplicativo, o mapeamento em tempo real!

Mapeando novas áreas enquanto limpa

Por falar em aplicativo, o X8 usa o app Smart Life (disponível para iOS e Android). Através dele você consegue configurar todos os parâmetros, como língua (sim! ele fala em português!), salvar os mapas de diferentes andares da casa, definir as áreas de exclusão e barreiras/paredes virtuais, ligar/pausar remotamente a aspiração, etc. Como o Smart Life se integra com a Alexa e Google, dá pra controlar o robô através dos dispositos Echo da Amazon (ou qualquer outro que possua Alexa) ou do Google Nest.

No fim do primeiro teste, o resultado foi surpreendente! A quantidade de poeira, pequenas folhas de plantas, etc. que ele conseguiu aspirar foi impressionante, assim como a “esperteza” em mapear e traçar os caminhos por onde vai passar, entrando e saindo por debaixo de camas, mesas, cadeiras, etc. sem dificuldade! O único ponto de atenção é tirar do chão qualquer fio ou cabo de energia, pois muito provavelmente vão enroscar no robô, bem como aqueles tapetes pequenos de “limpar os pés” que são muito leves e podem “embolar” quando o robô tenta passar por cima.

Sensores anti-queda em ação
Se entrou, tem que saber sair 🙂

Feita a primeira aspiração, era hora de trocar o depósito de residuos (poeira) pelo de água, para testar o recurso de passar pano (conhecido como MOP). O X8 tem capacidade para cerca de 300ml de água, que pode inclusive estar adicionada de produtos de limpeza (não abrasivos). Aproveitei o momento para definir no mapa as áreas e exclusão, como por exemplo, onde há tapetes. Você pode definir áreas de exclusão tanto para aspiração como para o MOP, de forma independente.

Conclusão

Como já adiantei no spoiler acima: Valeu cada centavo! O X8 cumpre o que promete, com uma eficiência muito acima do que eu esperava. É uma daquelas coisas que depois que você tem, não fica mais sem! 100% aprovado! Aqui está o link de onde comprei o meu.

Lembre-se: prefira comprar de vendedores que tem estoque no Brasil, e preste atenção no anúncio pois na maioria das vezes há códigos de cupons de desconto disponíveis no próprio anúncio 😉
PS: A Abir diz que dá 3 anos de garantia para o produto.

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FreeStyle Libre – opinião após 7 anos de uso

Devo ter sido um dos primeiros usuários do Libre no Brasil! Já sabia da existência do sensor no exterior e aguardei ansiosamente o lançamento no mercado nacional e, quando isso aconteceu, tratei logo de comprar o kit com leitor e sensor e começar a usar, como relatei no meu post de 2016.

De lá para cá, tivemos o lançamento da versão 2 e 3, mas só no exterior! No Brasil, continuamos com acesso apenas a primeira versão do produto. No entanto, algumas coisas mudaram, como, por exemplo, a disponibilização do aplicativo LibreLink permitindo a leitura dos sensores através de smartphones com NFC (Near Field Communication), tecnologia que vem se tornando cada vez mais comum, mas que por aqui continua limitada aos celulares mais caros. Cabe uma observação: apesar dessa possibilidade ser amplamente divulgada pela Abbott em suas propagandas, existe uma pegadinha que pode custar caro para o usuário: a Abbott tem uma lista de celulares “testados por eles” e se você usar o LibreLink em um celular que não consta nessa lista e tiver problema com algum sensor, eles não vão substituir o sensor gratuitamente, alegando que o celular não é homologado! Me parece uma desculpa esfarrapada pois celulares vendidos oficialmente no Brasil já passaram pelos testes da Anatel e, portanto, já teve o NFC homologado por um órgão competente.

Já não bastasse ficarmos para trás frente aos outros países em relação a versão do produto, aparentemente desde o final de 2.022 o mercado nacional foi inundado por sensores defeituosos. Já perdi a conta de quantos sensores troquei esse ano! Com certeza já deve ter passado de 20! Alguns não chegam nem a funcionar, outros funcionam por alguns dias e outros funcionam com medições muito distantes da realidade. Ligar para a Abbott para solicitar a troca continua sendo uma tarefa angustiante e burocrática! Cada hora pedem mais coisas: foto do cupom fiscal, foto do sensor aplicado, print de telas, foto de comprovante de envio do sensor defeituoso, enfim, parece que tratam você como algum malandro que quer simplesmente conseguir um sensor de graça! Eu estaria feliz comprando sensores a cada 14 dias, se eles funcionassem com precisão pelo tempo prometido! Seria um imenso prazer nunca ter que ligar para a Abbott para solicitar troca de sensores defeituosos!!!

O fato é que minha confiança no produto foi abalada absurdamente nos últimos meses. São tantos problemas que fica difícil fazer uma medição e acreditar no valor mostrado! Parece ser o caso onde a falta de concorrência faz com que a empresa entregue “qualquer coisa”.

Li algumas notícias sobre o desenvolvimento (lá fora) de sistemas closed-loop baseados no Libre. Pra quem não sabe, esses sistemas tentam simular a ação de um pâncreas através da comunicação direta entre o sensor e uma bomba de insulina, liberando a insulina necessária para manter a glicemia dentro da faixa desejada. Com tantos sensores problemáticos, eu não usaria um sistema closed-loop com o Libre!

Experiência recente (set/2023)

Tive uma experiência recente que demonstra como a atual situação dos sensores é estressante: Fiz uma viagem de 14 dias para o exterior. Saí de casa para Guarulhos com um sensor aplicado há 10 dias e, milagrosamente, ainda funcionando. Durante a viagem até o aeroporto, o sensor parou de funcionar! Felizmente, estava levando 3 sensores de backup! Apliquei logo o primeiro e segui viagem. Quando cheguei em Guarulhos, tentei fazer a primeira leitura, e já acusou erro, dizendo que era pra substituir o sensor. Troquei para um novo sensor que, mais uma vez, não chegou a funcionar! Já era madrugada quando instalei o terceiro sensor, em menos de 24h e, pasmem, também não funcionou! Restava apenas 1 sensor dos 3 de backup que eu levei para a viagem toda! Felizmente esse último funcionou, mas meus backups acabaram antes mesmo de eu sair do Brasil! Tive que passar em uma Drogaria São Paulo e pegar mais um sensor pois era quase certo que esse que tinha funcionado não duraria os 14 dias, e realmente não durou! Enfim, esse é apenas um exemplo real do quão estressante pode se tornar a vida de um usuário do Libre!

Enfim, torço imensamente que alguma empresa lance uma solução mais precisa e versátil, fazendo com que a Abbott “se mexa” e lance as novas versões no Brasil, mas principalmente, que melhore a qualidade dos sensores e trate seus consumidores com mais respeito!

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“Ruído” ao reproduzir áudio no Windows

Já não é a primeira vez que compro um notebook e ao reproduzir qualquer som no Windows, desde um simples “beep” de notificação do sistema até um áudio qualquer, dá pra ouvir um pequeno ruído logo que o áudio começa a ser reproduzido, o que considero no mínimo irritante!

Depois de muita pesquisa, descobri que se trata da configuração de economia de energia do dispositivo de áudio! Para economizar energia (será que economiza tanto assim?!?!) o driver desativa o dispositivo passado algum tempo desde a reprodução do último áudio. Com isso, quando um novo som é reproduzido, o driver “liga” a energia do dispositivo, o que acaba gerando o tal ruído nos alto-falantes. Depois de reproduzido o som, o driver aguarda um determinado tempo para desligar a energia, o que as vezes também pode gerar um ruído perceptível.

A solução é encontrar no registro do Windows a classe que representa o driver de áudio (no meu caso, da Realtek) e desligar a economia de energia para ele. Um artigo da Microsoft explica os parâmetros que podem ser modificados. No meu caso, apenas coloquei zero no parâmetro PerformanceIdleTime, desligando a economia de energia quando o notebook estiver plugado na tomada. Bastou alterar o valor e reiniciar o Windows que o problema foi resolvido!

Para encontrar a classe que se referia ao dispositivo de áudio em questão, abri o regedit do Windows, fui até HKEY_LOCAL_MACHINE\SYSTEM\CurrentControlSet\Control\Class\ e mandei buscar pela palavra “Realtek” (encontrou vários locais). Depois disso, fui procurando pela opção PowerSettings, onde se encontra o parâmetro PerformanceIdleTime, e fiz as alterações descritas acima.

Espero que seja útil para outras pessoas!

Beth’s feijoada

A friend of mine who visited Brazil many years ago and tasted my wife’s feijoada recently asked me about its recipe. A few days ago, Beth (my wife) was about to make a feijoada and I took some pictures and collected the necessary information to teach my friend how to prepare it. I’m publishing the instructions here, in English, so other foreigners can try this really tasty Brazilian typical food.

By the way, there is a legend in Brazil that feijoada was a food made by/for the slaves using the remaining meat from the “big house”, but that’s not true. Feijoada is an adaption of cassoulet and, imho, a much better and enhanced version.

Feijoada is mostly black beans mixed with different cuts of pork meat and sausages, and should be eaten preferably in the winter. If you wanna give it a special touch, you can prepare it in the wood stove 😉

So, let’s go… I’ll do my best to translate the ingredients names correctly. Probably some of the sausages can be hard to find outside Brazil, but with the currently globalization, I believe it is possible to find anything anywhere:

  • Black beans
  • Calabresa sausage (google translated as Pepperoni Sausage, but I don’t think it is really the same thing)
  • Paio sausage (Google doesn’t know how to translate this)
  • Pork loin
  • Smoked pork ribs
  • Jerked beef
  • Smoked bacon (or maybe, as my friend said after looking at the photo: fat salt pork)

For the ingredient amounts, well… for this recipe, we used 1kg of black beans, 250g of calabresa, 170g of Paio, 350g of ribs and 150g of bacon. You may play around with the quantities as you wish, but this amounts already gave us a great feijoada!

PS: Some people like also to add pork foot, ear, etc. We don’t, but this is a personal taste.

Preparing the feijoada

Black beans resting in the water

You must start preparing it one day before eating.
At night, put the black beans into water and let it sleep overnight (if necessary, you can complete with more water from time to time, since the beans will probably absorb the water).

First step to remove the salt from the

Get a pan and put the jerked beef covered with water. Leave it there for 30 minutes. You can do the same with other salted meats that you may have. This is to remove the salt from the meat, as you probably guessed.
Throw out the water, and repeat the process two more times, but for the 2nd and 3rd times, you will boil the meat in the water to help with the salt extraction.

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26 anos de Delphi

Dia 14 de fevereiro de 2021, o Delphi completou 26 anos! Ainda me lembro quando comprei o Delphi 1, na falecida Fenasoft, por R$ 50 (um preço excelente, diga-se de passagem). Guardo ele até hoje, com muito carinho, inclusive os manuais, etc.

Vinha de um histórico que, no IBM-PC, passou por Turbo Pascal, ASM, dBase/Clipper, isso tudo em ambiente DOS. Quando o Windows começou sua ascensão com o lançamento da versão 3, procurei algumas linguagens de programação para aquele ambiente, mas não me adaptei à nenhuma delas! Nem mesmo ao Turbo Pascal para Windows! Era tudo muito “cru”, chamadas de API com nomes gigantescos que dificilmente conseguiria memorizar, pouca praticidade, tudo muito manual, etc.

Foi então que em 1.995 o Delphi foi lançado, e com isso finalmente comecei a me aventurar em programação para Windows, sem precisar me martirizar com chamadas explícitas à APIs com nomes estapafúrdios, nem tentando imaginar como ficaria uma tela em runtime e, para a minha felicidade, usando uma linguagem que eu adorava: Pascal. Além disso, já trazia acesso à diversos bancos de dados através da BDE! Tudo bem, a BDE depois se provou como algo problemático e deficiente, mas para a época, parecia uma maravilha!

A VCL possibilitava construir aplicações com uma interface rica, de forma rápida e intuitiva! Houve um “boom” de componentes de terceiros, alguns uso até hoje, como Infopower, IBObjects e ReportBuilder (na época conhecido como piparti). Havia também uma infinidade de livros de Delphi, tanto no mercado internacional como no nacional. Foi realmente uma época de ouro!

Algumas versões ficaram eternizadas como o suprassumo do Delphi, e ainda são usadas por muitos desenvolvedores, como o Delphi 5 e o 7.

De lá pra cá, muita coisa aconteceu com ele: da Borland passou para a Inprise que passou para a CodeGear que passou para a Embarcadero (será que esqueci de alguma?). O Delphi sofreu bastante com essas mudanças. Algumas versões deixaram muito a desejar, principalmente em termos de qualidade/estabilidade da IDE. O Help integrado, que era excelente, foi “esquecido” por algum tempo e até hoje sofre os efeitos disso. Algumas apostas se mostraram furadas, a ponto de serem desprezadas algum tempo depois (Delphi for .NET, Delphi for PHP, Kylix, etc). Uma falta de política focada em universidades também contribuiu para que o Delphi perdesse espaço no meio educacional. Muita gente falando que o Delphi tinha morrido (alguns ainda falam ou acreditam nisso), mas estão muito enganados! Felizmente isso vem mudando nos últimos anos, e o Delphi nunca foi tão ativamente desenvolvido como agora.

O fato é que, 26 anos depois, o Delphi continua sendo minha ferramenta de programação preferida. Ele me possibilitou criar todos os tipos de aplicações que precisei desenvolver até hoje! Se integra com tudo e permite desenvolver qualquer tipo de projeto, desde jogos até aplicações comerciais, sites, webservices e – mais recentemente – aplicações mobile (iOS/Android), bem como para Linux ou MacOS, mantendo todo o poder do RAD (Rapid Application Development). Em termos de produtividade, creio que não tenha concorrente que ofereça o mesmo potencial! Quem trabalha sozinho e precisa dar conta de tudo: análise, desenvolvimento, suporte, etc. dificilmente daria conta do recado sem ter algo como o Delphi ao seu lado!

Enfim, fica o meu agradecimento à todos aqueles que possibilitaram o surgimento de algo tão revolucionário como foi o Delphi, e aos que até hoje trabalham pelo seu sucesso, incluindo os desenvolvedores que, como eu, sempre acreditaram na ferramenta.

Parabéns Delphi, muitos anos de vida!

PS: Durante muitos anos fui presidente do DUG-BR (Delphi Users Group Brazil). Naquela época, organizávamos eventos sobre Delphi, que chamamos de DDD (Delphi Developers Day). Foi um tempo muito bom, de muito aprendizado, onde conhecemos muita gente nas diversas cidades onde fizemos os DDDs, mas isso é uma outra história, para um outro post 😉

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A Demoscene

Assembly 2009

Demoscene é uma subcultura da arte computacional especializada na produção de demos, apresentações áudio-visuais não-interativas, que são executadas em tempo-real em um computador.

Wikipedia

A definição acima descreve bem resumidamente o que era a Demoscene, mas minha intenção nesse post é falar sobre como a conheci, além de lembrar um pouco do contexto da época e do porque considerar as demos algo especial que merece ser lembrado.

Contexto

No final da década de 1980, início da década de 1990, o poder computacional dos microcomputadores era muito, mas muuuuito mais limitado do que qualquer smartphone atual! No Brasil, o mercado de microcomputadores era basicamente composto por clones do Apple II (fabricados pela CCE, Dismac, Microdigital, etc) e por IBM/PC’s (fabricados pela Prológica, Itautec, etc), além de algumas outras marcas/plataformas menos importantes (fãs dos MSX vão querer me matar). Os Apple II (obrigado Steve Wozniak), eram basicamente usados em cursos introdutórios de informática, onde se aprendia os conceitos básicos de programação utilizando o próprio Basic nativo. Os cursos mais “avançados” usavam os PCs (XT, AT, 286, 386) para ensinar dBase/Clipper, Supervisicalc (o avô do Excel), Wordstar (avô do Word), etc.

Quem tinha um pouco mais de dinheiro podia se dar ao luxo de fugir desses PCs nacionais “meia-boca” e montar seus próprios PCs, geralmente com peças trazidas do Paraguai pelos “muambeiros”. Era comum os chamados “foguetões”, ônibus fretados que saíam em direção à Ciudad del Este numa sexta-feira, percorrendo milhares de km, chegavam lá no sábado de manhã, deixavam o pessoal fazendo compras para voltar logo em seguida. Trazia-se de tudo! Desde alho, roupas, brinquedos, até impressoras, monitores (de tubo), placas mães, cpus, gabinetes, placas de video, memórias, etc. Isso porque a reserva de mercado tornava praticamente impossível importar computadores fabricados no exterior (tudo para fomentar a indústria nacional… nem preciso dizer que não deu certo)!

Solution 16
Solution 16, da Prológica

Um PC “top” da época seria um 386DX de 40Mhz, com 4MB de RAM, placa SuperVGA, monitor Samsung Syncmaster 3 ou 4, modem USRobotics, etc. Percebeu que até agora não usei a palavra GIGA pra nada?! Pois é! Processadores de 40 MEGAHertz, 4 MEGAbytes de RAM, etc… inacreditável, não?!

A internet era para poucos! Na verdade, a maioria das pessoas nem sabia que ela existia. Basicamente, no Brasil, a internet só existia em algumas universidades públicas. Ainda assim, a World Wide Web (WWW, ou simplesmente Web) era uma recém-nascida e desconhecida por nós. Usar a internet significava basicamente usar programas específicos para executar funções específicas: ftp para troca de arquivos, nntp para grupos de discussão, IRC para chat ao vivo, Telnet para conectar computadores remotos, etc. Com a popularização da Web, ela acabou se tornando quase que um sinônimo para a internet (obrigado Mosaic e Netscape).

Nessa época, comecei um estágio na ESALQ/USP, onde tive o primeiro contato com a rede mundial de computadores. Eu já era SysOp da WarmBoot BBS, e acessar a internet abriu um mundo novo de possibilidades para obtenção de arquivos para disponibilizar aos usuários do BBS. Até então, os acervos de arquivos dos BBS eram baseados em CDs de shareware ou no envio de arquivos pelos próprios usuários. Com a internet, mais especificamente com o FTP e sites como o Simtel 20, ficava muito mais fácil e rápido ter acesso à programas e novidades das mais variadas! Foi numa dessas “zapeadas” pelos FTPs da vida que vi um diretório de arquivos chamado “demos“. Baixei alguns pra ver do que se tratava, e foi aí que meu interesse pela Demoscene nasceu.

Demos?

As demos eram programas, geralmente codificados em linguagem C e/ou assembly (linguagem de máquina), onde o objetivo era criar animações gráficas explorando ao máximo os recursos (limitados) dos hardwares disponíveis, gerando objetos em 3D, chamas, sombreados, etc.

Uma boa demo era aquela que conseguia reunir as seguintes características:

  • Maior suavidade nos movimentos
  • Boa resolução
  • Trilha sonora original (geralmente arquivos MOD nas Demos, e MIDI nas Intros)
  • Efeitos gráficos
  • Muito “3D”
  • O menor tamanho de executável possível

Hoje em dia é normal assistirmos filmes repletos de efeitos especiais e cenários que só existem digitalmente. Essas cenas são todas renderizadas (desenhadas) por softwares executados em computadores “fodásticos”, que no final geram uma sequência de imagens que vão compor as cenas do filme. Esse processo pode levar horas, dias, semanas ou meses, dependendo da complexidade dos objetos na cena, duração, resolução e nível de detalhamento desejado, etc.

O fantástico das demos era que praticamente tudo que você estava assistindo estava sendo calculado e desenhado em tempo real, usando hardwares extremamente variados e limitados! Diferente de um filme que já tem todas as cenas produzidas anteriormente, as demos calculam e geram as animações na hora!

Geralmente eram produzidas por várias pessoas, entre programadores (coders), artistas gráficos, compositores, etc. Algumas se juntavam e criavam um DemoGroup, como, por exemplo, Future Crew, Twilight Zone, Renaissance, Triton, etc.

Assembly 2009
Assembly 2009

A maioria desses DemoGroups eram compostos por pessoas dos países nórdicos, especialmente finlandeses. A impressão que dava era que quanto mais gelado o país, melhores eram as demos… talvez seja um efeito de não poder sair pra badalar devido ao frio intenso 😀

Com o passar do tempo, campeonatos anuais de demos começaram a ser organizados, como o Assembly e a The Party. Esses campeonatos reuniam diversos integrantes de vários DemoGroups, onde as demos eram apresentadas e avaliadas para se eleger as vencedoras. Criou-se até mesmo categorias de competição: 1K Intros, 4K Intros, 64K Intros, PC Demos, etc.

Unreal

Vencedora do campeonato Assembly’92, produzida pela Future Crew. Além de uma trilha sonora excepcional (© Purple Motion), tinha todos os quesitos que compõem uma boa demo. Não foi a toa que ganhou o concurso! Essa foi a primeira demo que realmente me encheu os olhos! Na época, chegamos até a exibi-la publicamente (através de um datashow) em uma palestra que demos no Colégio Piracicabano.

Li em uma entrevista, há alguns anos atrás, que o compositor (Purple Motion) havia criado toda a trilha sonora direto no computador, um Commodore64, sem ter nem ao menos um piano ou sintetizador pra ajudar! Para isso eram usados os trackers, programas que permitiam compor músicas diretamente no computador, geralmente no padrão MOD ou alguma variação dele.

Second Reality

Após ganhar o primeiro lugar no Assembly em 1992 com a Unreal, a Future Crew apresentou no Assembly’93 a Second Reality (ou Unreal 2), sua mais nova criação, trazendo gráficos e efeitos ainda mais elaborados. Algumas das ideias eram claramente uma evolução de partes da Unreal, assim como alguns objetos 3D. Ganharam o primeiro lugar, de novo!

O código fonte da Second Reality foi aberto e publicado no Github em 2.013, em comemoração ao aniversário de 20 anos!

As demos no Brasil

Infelizmente, desconheço a existência de um DemoGroup brasileiro, muito menos de algum campeonato nacional de demos. Como já comentei, naquela época a internet era para pouquíssimos, sendo mais comuns os BBS como forma de “comunidade digital” para troca de mensagens, arquivos, etc. Como SysOp, comecei a disponibilizar na WarmBoot BBS as demos que eu baixava da internet. Não demorou muito para que esses arquivos fossem parar em outros BBS do país, e com isso mais pessoas passaram à aprecia-las!

A internet também me possibilitou entrar em contato com alguns DemoGroups por e-mail, e assim a WarmBoot BBS passou a ser distribuidora oficial da FutureCrew, Renaissance e Twilight Zone, no Brasil!

Naquela época ainda tinha tempo para brincar com diferentes linguagens de programação e técnicas “baixo nível”, como programação VGA, etc. chegando inclusive a criar uma pequena intro escrita em Assembly para ser distribuída com todos os arquivos do WarmBoot BBS, a Great2!, que fazia uso de técnicas de refresh da VGA para simular uma tela kickando suavemente, enquanto uma música era tocada em background juntamente com um “VU meter” em tempo real. A música eu peguei pronta na internet, bem como o código do midi player que à executava. O executável final ficou com 6KB, apesar que “trapaceei” usando um compressor, visto que provavelmente só os dados da música já ocupavam mais que isso.

IBM/PCs não são legais…

Pelo menos não para as demos 😉 O fato é que IBM/PCs não foram projetados com a intenção de serem “centrais de entretenimento”. Na época, existiam computadores muito mais “demo friendly”, sendo o Amiga o mais conhecido… bom, pelo menos lá fora, já que não existia fabricação nacional de “clones” do Amiga, portanto, era uma raridade encontrar um por aqui.

Amiga 4000

O Amiga veio de um projeto que originalmente visava ser um video game, portanto, sempre foi focado em gráficos e som, um paraíso para os demo makers! Com isso, conseguia realizar tarefas gráficas muito mais rapidamente do que um IBM/PC. O Amiga já de cara nasceu com um sistema operacional gráfico, e usava CPUs da Motorola, os mesmos que a Apple usou no Macintosh durante um bom tempo.

Enfim, com a proliferação mundial dos micros compatíveis com IBM/PC, os demo makers acabaram desenvolvendo também demos para essa arquitetura, felizmente para nós!

Enfim, era isso que tinha pra falar… post recheado de velharia e saudosismo. Muitos irão matar saudades, outros provavelmente vão descobrir coisas que nunca ouviram falar.

Espero que a leitura tenha sido divertida e que tenha despertado a curiosidade sobre as demos. Visitem os links e terão muito mais informação sobre o assunto!

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